
Poesia tão bonita e ao mesmo tempo dolorida, de autoria do poeta e Ministro do TST Alberto Bresciani. Diz muito dos nossos tempos. Compartilhamos com vocês, pois a arte ilumina a alma.
VÍSCERAS
Estamos sentados na sala
e vamos trocando de pele.
O sol é pouco, a noite dura em excesso
e isso não nos favorece.
A pele é cada vez mais fina.
Há muito movimento, ruído,
há balas perdidas, desenhando o trajeto
da morte entre os vírus e a fúria.
Vai se tornando difícil
tirar as mangas da pele
e a epiderme velha esgarça, rasga.
Nossa pele está tão fina,
nossa pele é de assombro –
sem as escamas afiadas dos seres
blindados e sem rosto
que sequer têm salas.
Eles vêm dos quatro cantos do mundo
e esperam que não nos sobrem peles,
que não nos sobre nada sobre o corpo.
Querem que acabemos
nesses escombros,
apenas vísceras diante da tv.
Alberto Bresciani